quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Que novo amor...

...era aquele apregoado aos pescadores singelos por lábios tão divinos? Até ali, caminhara ela sobre as rosas rubras do desejo, embriagando-se
com o vinho de condenáveis alegrias. No entanto, seu coração estava sequioso e
em desalento. Jovem e formosa, emancipara-se dos preconceitos férreos de sua raça; sua beleza lhe escravizara aos caprichos de mulher os mais ardentes
admiradores; mas seu espírito tinha fome de amor. O profeta nazareno havia plantado em sua alma novos pensamentos. Depois que lhe ouvira a palavra,
observou que as facilidades da vida lhe traziam agora um tédio mortal ao espírito sensível. As músicas voluptuosas não encontravam eco em seu íntimo, os enfeites romanos de sua habitação se tornaram áridos e tristes. Maria chorou longamente, embora não compreendesse ainda o que pleiteava o profeta desconhecido.
Entretanto, seu convite amoroso parecia ressoar-lhe nas fibras mais sensíveis de mulher.
Para todos, era ela a mulher perdida que teria de encontrar a lapidação na praça pública. Sua
consciência, porém, lhe pedia que fosse. Jesus tratava a multidão com especial
carinho. Jamais lhe observara qualquer expressão de desprezo para com as
numerosas mulheres de vida equivoca que o cercavam.
Além disso, sentia-se seduzida pela sua generosidade. Se possível, desejaria trabalhar na execução de suas idéias puras e redentoras. Propunha-se a amar, como Jesus amava, sentir
com os seus sentimentos sublimes. Se necessário, saberia renunciar a tudo. Que
lhe valiam as jóias, as flores raras, os banquetes suntuosos, se, ao fim de tudo
isso, conservava a sua sede de amor?!...
No entanto, Senhor, tenho amado e tenho sede de amor!...
- Sim - redargüiu Jesus -, tua sede é real. O mundo viciou todas as fontes de
redenção e é imprescindível compreenda que em suas sendas a virtude tem de
marchar por uma porta muito estreita.
Só o amor que renuncia sabe caminhar para a vida suprema..
Jesus recolheu-a brandamente nos braços e murmurou:
- Maria, já passaste a porta estreita!... Amaste muito! Vem! Eu te espero aqui!

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